terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O coveiro

Uma tarde de abril suave e pura
Visitava eu somente ao derradeiro 
Lar; tinha ido ver a sepultura
De um ente caro, amigo verdadeiro.

Lá encontrei um pálido coveiro
Com a cabeça para o chão pendida;
Eu senti a minh'alma entristecida
E interroguei-o: 'Eterno companheiro

Da morte, quem matou-te o coração?"
Ele apontou para uma cruz no chão,
Ali jazia o seu amor primeiro!

Depois, tomando a enxada, gravemente,
Balbuciou, sorrindo tristemente:
-"Ai, foi por isso que me fiz coveiro!"

+*+Augusto dos Anjos+*+
Imagem:Grave-digger, Viktor Vasnetsov, 1871