Versos a um coveiro
Numerar sepulturas e carneiros*,
Reduzir carnes podres a algarismos,
Tal é, sem complicado silogismos,
A aritmética dos coveiros!
Um, dois, três, quatro cinco... Esoterismos
Da morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros,
Na progressão dos números inteiros
A gênese de todos os abismos!
Oh! Pitágoras da última aritmética,
Continua a contar na paz ascética**
Dos tábidos*** carneiros sepulcrais
Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros,
Porque, infinita como os próprios números,
A tua conta não acaba mais!
+*+Augusto dos Anjos+*+
Vocabulário
*Carneiro - Gaveta ou urna, nos cemitérios, onde se enterram cadáveres.
**Ascético - Relativo a ascetas ou ao ascetismo.
***Tábido – Podre, corrupto.
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