domingo, 21 de dezembro de 2008

Soneto de Separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se de amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente não mais que de repente.

+*+Vinicius de Moraes+*+

* Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1913
+ Rio de Janeiro, 9 de julho de 1980

Imagem: Eleuza de Morais

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