sexta-feira, 19 de junho de 2009

Não há vagas

O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema
o gás a luz o telefone
a sonegação do leite
da carne do açúcar
do pão
O funcionário publico
Não cabe no poema
Com seu salário de fome
Sua vida fechada
Em arquivos.

Como mão cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
Está fechado
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede nem cheira.

+*+Ferreira Gullar+*+

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