sábado, 25 de julho de 2009

Também ela

Ela também ouviu os sons das vagas
Sobre os rochedos – e talvez dissesse:
– O som das vagas, que embelece os outros,
Não me embelece.

Ela também sentiu a fresca aragem
Sobre os cabelos – e talvez dissesse:
– A fresca aragem que adormece os outros,
Não me adormece.

Ela também deitou-se no sereno
Sobr’estas relvas e talvez dissesse:
– Este sereno, que empalece os outros,
Não me empalece.

Ela também olhou estas montanhas
Sobre as campinas – e talvez dissesse:
– A vista delas, que embevece os outros,
Não me embevece.

Ela também andou ao sol ardente
Sobre as planícies – e talvez dissesse:
– O sol ardente, que enrubesce os outros,
Não me enrubesce.

Ela também provou dos cardos frescos
Sobre as areias – e talvez dissesse:
– O gosto deles, que arrefece os outros,
Não me arrefece.

Ela também sentou-se neste muro
Sobr’estas pedras – e talvez dissesse:
– Este quadro gentil, que encanta os outros,
Já me aborrece.

Este quadro gentil agrada aos outros,
É belo todo – ela talvez dissesse:
Porém tão longe o meu amor! – oh! tudo,
Tudo falece!

Sim: ela o disse merencória e amante:
Ímpios, não duvideis que ela o disseste:
– Tão longe dele assim! sem vida tudo,
Tudo parece!

+*+Junqueira Freire+*+
in Contradições Poéticas

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