sexta-feira, 24 de julho de 2009

Teus olhos...

Oh! tu, que abriste no meu peito estéril
Fontes de amor e virginal ternura,
Íntima essência da manhãs cheirosas,
Lírio animado de infantil candura;

Idéia, encanto, lucidez dos anjos,
Pálido sonho de saudades feito,
Por ti definho, vem tocar mais perto
A dor oculta, que me rasga o peito.

Podem teus olhos, para os céus erguidos,
D’altos mistérios penetrar no fundo;
Falar das noites ao silêncio místico,
De luz e graça esclarecer o mundo...

Podem teus olhos, que deslumbram fúlgidos,
Quando entre os astros fulgurosos tremem,
Saber a causa por que a lua é triste;
Por que a alma chora, por que as rolas gemem...

Mas não puderam, por desdita minha,
Sondar o germe desta mágoa infinda;
Mas não puderam, penetrantes, vívidos,
Teus meigos olhos entender-me ainda!

E eu tenho n’alma, para dar-te, aromas
De inotas flores que ninguém sentiu,
Como no fundo dos espaços brilham
Milhões de mundo que inda não se viu.

E eu tenho n’alma a vibração eterna
D’harpas que ao longe soluçar ouvi;
Tenho os suspiros, o bater das asas,
Talvez de um gênio que morreu por ti.

Mas tu não sabes o que sinto! Escuta
O verbo augusto, que direi tremendo,
Última nota que do peito as cordas,
Por ti quebradas, soltarão morrendo...

Eu te amo! Atende: e deste amor, que eu calo,
Por prêmio e glória, só imploro a Deus
Na terra – um pouco de silêncio... nada;
No céu – a graça dos sorrisos teus...

+*+Tobias Barreto+*+

imagem de: Franz Xaver Winterhalter - Portrait of Madame Barbe de Rimsky-Korsakov

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