Certa vez na noite ruivamente...
Esquivo sortilégio o dessa voz, opiada
em sons cor de amaranto, às noites de incerteza,
que eu lembro não sei de onde – a voz de uma princesa
bailando meia nua entre clarões de espada.
Leonina, ela arremessa a carne arroxeada;
e bêbeda de si, arfante de beleza,
acera os seios nus, descobre o sexo... Reza
o espasmo que a estrebucha em alma copulada.
Entanto nunca a vi mesmo em visão. Somente
a sua voz a fulcra ao meu lembrar-me. Assim
não lhe desejo a carne – a carne inexistente...
É só de voz-em-cio a bailadeira astral
– e nessa voz-estátua, ah! nessa voz-total
é que eu sonho esvair-me em vícios de marfim...
+*+Mário de Sá-Carneiro+*+
* Lisboa, 1890
Esquivo sortilégio o dessa voz, opiada
em sons cor de amaranto, às noites de incerteza,
que eu lembro não sei de onde – a voz de uma princesa
bailando meia nua entre clarões de espada.
Leonina, ela arremessa a carne arroxeada;
e bêbeda de si, arfante de beleza,
acera os seios nus, descobre o sexo... Reza
o espasmo que a estrebucha em alma copulada.
Entanto nunca a vi mesmo em visão. Somente
a sua voz a fulcra ao meu lembrar-me. Assim
não lhe desejo a carne – a carne inexistente...
É só de voz-em-cio a bailadeira astral
– e nessa voz-estátua, ah! nessa voz-total
é que eu sonho esvair-me em vícios de marfim...
+*+Mário de Sá-Carneiro+*+
* Lisboa, 1890
+ Paris, 1916
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