domingo, 22 de março de 2009

Depois da vida

Quando meu coração parar desfeito
Em sombra, na profunda sepultura,
E o meu ser, já fantástico e perfeito,
Vaguear entre o Infinito e a terra dura;

Quando eu sentir, enfim, todo o meu peito
A transformar-se em constelada Altura;
Eu, divino Fantasma, claro Eleito,
O Enviado da Vida à Morte escura;

Quando eu for minha lúcida esperança,
Meu próprio amor jamais anoitecido,
E minha sombra for apenas lembrança;

Quando eu for um espectro de Saudade,
Entre o luar e a névoa amanhecido,
Serei contigo, Amor, na Eternidade.

+*+Teixeira de Pascoaes+*+
in Elegias, 1912

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