terça-feira, 5 de maio de 2009

Língua portuguesa

Última flor do Lácio, inculta e bela,
és, a um tempo, esplendor e sepultura:
ouro nativo, que na ganga* impura
a bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
tuba de alto clangor**, lira singela,
que tens o trom*** e o silvo da procela****,
e o arrolo***** da saudade e da ternura.

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
de virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

em que da voz materna ouvi: “Meu filho!”
e em que Camões chorou, no exílio amargo,
o gênio sem ventura e o amor sem brilho.

+*+Olavo Bilac+*+

* Rio de Janeiro, 1865
+ Rio de Janeiro, 1918


Vocabulário

*Ganga - Resíduo, em geral não aproveitável, de uma jazida filoniana, o qual pode, no entanto, em certos casos, conter substâncias economicamente úteis.
**Clangor - Som rijo e estridente como o de certos instrumentos metálicos de sopro, como, p. ex., a trompa e a trombeta.
***Trom - estrondo produzido por tiros de artilharia; som do trovão.
****Procela - Tempestade marítima.
*****Arrolo - Canto para adormecer crianças.

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