sábado, 21 de fevereiro de 2009

A morta


Cheguei-me ao pé do leito, em prantos, e ela,

Como uma flor já pálida e esvaída,

Volveu-me aquele olhar onde brilhava aquela

Ânsia que traz a dor da despedida.


Busquei n’um beijo inda infiltrar-lhe a vida;

Mas o palor cobriu-lhe a face bela,

E a fronte, enfim, dobou desfalecida,

Como um languido lírio de capela...


Desde então paira a sombra desse leito

Na minh’alma, onde a noite eterna esconde

Meu louco ideal n’um túmulo desfeito.


E onde paira a minh’alma, em trevas? Onde?

Foi com ela, pois bato hoje no peito

E o coração também não me responde!


+*+Osório Duque Estrada+*+

imagem: Gustave Doré

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