segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Última vontade

O corpo num lençol, e assim metido
em minha mãe, donde nasci, a terra,
Nada o som do bronze, um som que aterra,
que descontenta um delicado ouvido.

Ninguém ouse soltar um só gemido
junto da cova que meu corpo encerra:
longe, a minh’alma em outros mundos erra,
dêem-lhe paz de um sempiterno olvido.

Nada de luto, de sanefas pretas;
onde eu fique, um recôndito jardim,
onde ela, a mais divina das Julietas,

se por acaso lembrar de mim
possa colher um ramo de violetas
com que inflore o seu peito de cetim.

+*+João Penha+*+

* Braga - Minho, 1839
+ Braga - Minho, 1919

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