segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Odor di Femina

Era austero e sisudo; não havia
frade mais exemplar nesse convento;
no seu cavado rosto macilento
um poema de lágrimas se lia.

Uma vez que na extensa livraria
folheava o triste um livro pardacento,
viram-no desmaiar, cair do assento,
convulso, e torvo sobre a laje fria.

De que morrera o venerado frade?
Em vão busco as origens da verdade,
ninguém m’a disse, explique-a quem puder.

Consta que um bibliófilo comprara
o livro estranho e que, ao abri-lo, achara
uns dourados cabelos de mulher.

+*+Gonçalves Crespo+*+

* Rio de Janeiro, 1846
+ Lisboa, 1883

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