sábado, 7 de fevereiro de 2009

Ao longe os barcos de flores

Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil*, na escuridão tranqüila,
- Perdida voz que de entre as mais se exila,
-Festões** de som dissimulando a hora,

Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranqüila.

E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta***, detém. Só modulada trila
A flauta flébil****... Quem há-de remi-la*****?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?

Só, incessante, um som de flauta, chora...

+*+Camilo Pessanha*+*+
in Clepsidra

Vocabulário

*grácil - delgado, delicado, fino;
**festão - ramalhete de flores e folhagens, grinalda;
***cauta - acautelada, com cautela;
****flébil - lacrimoso, choroso, lastimoso, plangente, débil, fraco.

*Camilo Almeida Pessanha

* Coimbra - Portugal, 7 de setembro de 1867
+ Macau - China, 1 de março de 1926 1926



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