sábado, 7 de fevereiro de 2009

Ó tu do meu amor fiel traslado*
Mariposa entre as chamas consumida,
Pois se à força do ardor perdes a vida,
A violência do fogo me há prostrado**.

Tu de amante o teu fim hás encontrado,
Essa flama girando apetecida;
Eu girando uma penha endurecida,
No fogo, que exalou, morro abrasado.

Ambos de firmes anelando chamas,
Tu a vida deixas, eu a morte imploro
Nas constâncias iguais, iguais nas chamas.

Mas ai! que a diferença entre nós choro,
Pois acabando tu ao fogo, que amas,
Eu morro, sem chegar à luz, que adoro.

Vocabulário

*fiel traslada - fiel tradução, isto é, imagem fiel;
**prostrado - abatido

+*+Gregório de Matos+*+


Nota sobre o autor

Gregório de Matos Guerra (1626 - 1696)
Foi tão tumultuada a vida do poeta baiano que um biógrafo chamou-a de "vida espantosa".
Como filho de um senhor de engenho, Gregório pôde estudar em Portugal, para onde se mudou aos 14 anos de idade. Lá passou trinta e dois anos, prósperos e tranqüilos.
Retornou ao Brasil em 1682, nomeado para funções na burocracia eclesiástica da Sé da Bahia. Durou pouco no cargo, do qual foi destituído em 1683. Iniciou-se, então, a última fase de sua vida. O casamento com Maria dos Povos, a quem dedicou belíssimos sonetos, não impediu a decadência, social e profissional, do Dr. Gregório. Ficou famoso em suas andanças e pândegas pelos engenhos do Recôncavo. Mais famosas ainda eram suas sátiras. Talvez por causa delas, foi deportado para a Angola, em 1694. Pôde retornar ao Brasil, no ano seguinte, mas para o Recife, onde morreu aos 59 anos de idade.

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