domingo, 1 de fevereiro de 2009

Como devo, como posso...

Como devo, como posso
Mitigar esta paixão,
Este túmulo em que lida
Revoltoso o coração?

Como hei de calar os gritos
Que dele saindo vão,
Se são desta dor violenta
Última consolação?

Grito, sim, é-me preciso
Dissolve-la nos meus gritos.
Desculpe Deus meus excessos,
E Márcia, pois são delitos.

Freme qual raiva do Inferno,
No peito a dor se revolta;
Da mais elevada chama,
Que é a sua origem, se solta.

Desta labareda surde
Torrente devoradora,
Cujo incêndio tudo abrasa,
E a mim mesmo me devora.

Sede, oh Deus! oh criaturas!
Testemunhas de um tal dano;
Se pode testemunhá-lo,
Sofre-lo algum ser humano!

Bem como em masmorra escura
Geme um preso maniatado,
Que me grilhões de um peso enorme
Tem o corpo carregado;

Meu espírito assim luta;
Apalpa em torno, forceja
Por encontrar uma fenda
Onde entre a luz que deseja,

Um raio refrigerante
De esperança que o conforte;
Veda a abóbada funesta,
Que romper só pode a morte.

De multiformes idéias
Um novo terror o oprime;
Todo o alívio lhe é defeso;
Desejo, esperança, é crime.

+*+Gottfried August Bürger+*+

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