domingo, 1 de fevereiro de 2009

Versos inscritos numa taça de crânio humano

Não recues! De mim ainda não foi-se o espírito...
Em mim verás – pobre caveira fria –
Único crânio que, ao invés dos vivos,
Só derrama alegria.

Vivi! Amei! Bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Não me insultes! Empina-me!... Que a larva
Tem beijos mais sombrios que os teus.

Mais vale guardar o sumo da parreira
Do que ao verme do chão ser pasto vil;
– Taça – levar dos deuses a bebida,
Que o pasto do réptil.

Que este vaso, onde o espírito brilhava,
Vá nos outros o espírito acender.
Ai! quando um crânio não tem mais cérebro
Podeis de vinho o encher!

Bebe, enquanto inda é seu tempo! Uma outra taça,
Quando tu e os teus fordes nos fossos,
Pode do abraço te livrar da terra,
E ébria folgando profanar teus ossos.

E por que não? Se no correr da vida
Tanto mal, tanta dor aí repousa?
É bom fugindo à podridão do lodo
Servir na morta enfim p’ra alguma coisa!...

+*+Byron*+*+

*George Gordon Byron

* Londres, 22 de janeiro de 1788
+ Missolonghi, 19 de abril de 1987

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