- Que levas, cruel Morte? - Um claro dia.
- A que horas o tomaste? - Amanhecendo.
- Entendes o que levas? - Não o entendo.
- Pois quem to faz levar? - Quem o entendia.
- Seu corpo quem o goza? - A terra fria.
- Como ficou sua luz? - Anoitecento.
- Lusitânia que diz? - Fica dizendo:
"Enfim, não mereci Dono Maria".
"Enfim, não mereci Dono Maria".
- Mataste quem a viu? - Já morto estava.
- Que diz o cru Amor? - Fala não ousa.
- E quem o faz calar? - Minha vontade.
- Na Corte que ficou? - Saudade brava.
- Que fica lá que ver? - Nenhuma coisa.
Mas fica que chorar sua beldade.
+*+Luís Vaz de Camões+*+
* c, 1524
+ Lisboa, 10 de junho de 1580
imagem: Victoria Francés
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