sábado, 14 de fevereiro de 2009

É esta porventura a praia amena

É esta porventura a praia amena
do manso Tejo? É este o monte erguido,
onde, nus negros olhos escondido,
me fez contente amor com minha pena?

É este o bosque, que aura tão serena
derramava do vento sacudido?
Ou este o verde choupo em que esculpido
deixei o nome que meu mal serena!

Quão outro tudo está, quão demudado!
Perdeu a graça, perdeu a formosura
do alegre tempo por meu mal passado...

Mas oh! como se engana a conjectura!
Inda tudo conserva o antigo estado,
somente se mudou minha ventura.

+*+Cruz e Silva+*+

* Lisboa, 1731

+ Rio de Janeiro, 1799

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