sábado, 14 de fevereiro de 2009

Soneto

Uns lindos olhos, vivos, bem rasgados,
um garbo senhoril, nevada alvura,
metal de voz que enleva de doçura,
dentes de aljôfar, em rubi cravados.

Fios de ouro, que enredam meus cuidados,
alvo peito, que cega de candura,
mil prendas; e (o que é mais formosura)
uma graça, que rouba mil agrados.

Mil extremos de preço mais subido
encerra a linda Márcia, a quem ofereço
um vulto, que nem dela inda é sabido.

Tão pouco de mim julgo que a mereço,
que enoja-la não quero de atrevido
com as penas que por ela em vão padeço.

+*+Filinto Elísio+*+

imagem: Leitura - Pierre-Auguste Renoir

* Lisboa, 1734
+ Paris, 1819

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