terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Pedido

Quando eu morrer
Não quero lamentos, nem recordações,
nem pranto derramado
Não quero carros devagar e sérios
atrás do terrível urubu comigo nas entranhas
Não quero cafezinhos nem conversa fiada
Em torno do meu monte de ossos e carnes
Já sem função

Quando eu morrer
Não quero nada mais que descansar
E descanso de não estar cansado
Desta coisa boa que é viver

Quando eu morrer
(se morrer)
quero que me enterrem nu como nasci
e ponham uma semente de roseira
bem no meio
do meu feio umbigo

Não mãos cruzadas sobre o peito
Nem anúncios no rádio e no jornal
(e não me encomendem missas, por favor!)
Não quero o preto a escurecer a madrugada
Não quero o terno novo, nem sapatos, nada...

Quero que nasça uma roseira do meu umbigo
Para cada flor ser um verso que pensei
E não cheguei a escrever
E cada espinho a expiação pelos que escrevi

Quero ir embora;
Como cheguei:
Sem nome, sem obrigações
Sem coisíssima alguma
Só!

+*+Mário Jorge de Menezes+*+

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