sábado, 14 de fevereiro de 2009

A umas saudades

Saudades de meu bem, que noite e dia
a alma atormentais, se é vosso intento
acabares-me a vida com tormento,
mais lisonja será que tirania.

Mas quando me matar vossa porfia,
de morrer tenho tal contentamento,
que em me matando vosso sentimento,
me há-de ressuscitar minha alegria.

Porém matai-me embora, que pretendo
satisfazer com mortes repetidas
o que à beleza sua estou devendo;

vidas me daí para tirar-me vidas,
que ao grande gosto com que as for perdendo,
serão todas as mortes bem devidas.

+*+Antônio Barbosa Bacelar+*+


* Lisboa, 1610

+ Lisboa, 1663

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