sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Velho tema

Só a leve esperança em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada,
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada,
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos,
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim, mas nós não a alcançamos,
Por que está sempre apenas onde a pomos,
E nunca a pomos onde nós estamos.

+*+Vicente de Carvalho+*+
in Poemas e Canções

+*+Análise+*+
Localização do Texto
A poesia 'Velho Tema' é uma das mais conhecidas da obra de Vicente de Carvalho, poeta e político, nascido em Santos (1886 - 1924)
Como bem mostram suas obras, foi um burilador do verso tal como prega a sua escola - o Parnasianismo.
De uma sensibilidade muito profunda penetrava com agudeza no mundo interior do homem e daí procurava exprimir os anseios incontidos da alma humana. Mas tudo isso sem decorrer a devaneios e com apuro de forma, de acordo com os moldes de sua escola, esses sentimentos subiam à tona com objetividade e realismo, "às claras", como ele mesmo preconizava "Velho Tema" pertence a obra Poemas e Canções" publicada em 1908.
Determinação da ideia central ou tema
"A insatisfação da alma humana."
Obs.: Para que o tema seja reduzido a apenas um pensamento é interessante que se faça, anteriormente, um resumo do texto.
Determinação da estrutura
a) análise rítmica, estrófica e métrica:
O poema em questão compõe-se de duas estrofes de quatro versos e duas estrofes de três versos. Trata-se, portanto, de um soneto.
Versos de dez sílabas (decassílabo), próprios do soneto clássico.
As rimas são alternadas, quanto à sua disposição, isto é, o primeiro verso rima com o terceiro e o segundo, com o quarto verso.
São rimas ricas as formadas com palavras de categorias gramáticais diferentes, exemplo, resumida com vida. Há outras, formadas com palavras da mesma categoria, sonhamos com alcançamos, que não podem ser consideradas pobres em vista da precisão com que foram usadas.
Observa-se a beleza e o feliz emprego das rimas pomos (frutos) com pomos (verbo pôr).
b) Apartados ou segmentos:
1°) apartado: primeira estrofe {frustração
2°) apartado: segunda estrofe {ilusão, esperança
3°) apartado: as duas últimas estrofes {desejo insatisfeito
Análise da forma
a) Estudo do vocabulário em relação às idéias:
"leve esperança" - fragilidade.
"disfarça" - engana.
"a pena de viver" - a desgraça de viver, indica o pessimismo, frustração.
"mais nada" - somente essa esperança justifica o viver.
"nem é mais" - ideia de exclusividade, pessimismo.
"esperança malograda" - que não se alcança, frustrada.
"alma desterrada" - alma condenada, destinada à fatalidade.
"embevecia" - absorta, obcecada por um sonho.
"hora feliz, sempre adiada" - idéia de inclusão, de sonho que nunca será concretizado.
"nunca" - confirma a ideia anterior.
"sempre - nunca" - ideias opostas que reforçam a ideia de tempo, de destino implacável.
"felicidade que supomos" - a ideia de suposição, quer dizer que ela não existe, é apenas uma ilusão.
"árvore milagrosa que sonhamos toda arreada de dourados pomos" - essa metáfora é de uma imaginação fertilíssima pois indica como a alma humana concebe a felicidade - uma árvore milagrosa carregada de frutos dourados que simboliza a abundância, a riqueza.
"milagrosa" - significa a duração infinita desse bem.
"dourados" - dá a ideia de riqueza.
"arreada" - carregada e adornada.
"existe, sim" - dá ideia de confirmação, não há dúvida de sua existência.
"está sempre apenas, onde a pomos" - quer dizer que nós mesmos construímos a felicidade.
"e nunca a pomos onde nós estamos" - significa que a alma humana "é uma eterna insatisfeita" pois que não se contenta com o que está a seu alcance, busca sempre um alvo inatingível.
No plano religioso, a felicidade suprema é Deus e a alma só descansará quando encontrá-Lo.
b) Figuras:
Metáfora:
"Árvore milagrosa toda arreada de dourados pomos."
Comparação:
"Nem é mais a existência resumida, que uma grande esperança malograda."
Símbolos:
"dourados pomos."
Sinédogue:
"O eterno sonho da alma desterrada."
c) Relação título contexto:
Título e contexto estão intimamente relacionados, pois que tema é mais do que a felicidade, ou melhor, do que a procura da felicidade? Como diz Vicente de Carvalho, esse é um "Velho Tema".
É a mola propulsora que impulsiona todas as ações do mundo
Conclusão:
a) Mensagem:
Com esse poema, Vicente de Carvalho nos envia uma profunda mensagem - nós mesmos construímos a nossa felicidade e para que a encontremos (basta) devemos construí-la dentro das nossas propriedades pois se a colocamos em terreno alheio nunca teremos direito a ela.
b) Impressão pessoal:
O que nos toca profundamente é esse tema de âmbito universal, tão velho e ao mesmo tempo tão novo. É assunto que todos conhecem e ao mesmo tempo desconhecem, e quando vem à tona através das palavras buriladas do poeta, todos dizem - isso é verdade, mas, possivelmente, continuem procurando a felicidade onde ela não está.
Vicente de Carvalho traduz bem a Escola literária a que pertence - o Parnasianismo, aliás, o Parnasianismo brasileiro que além do esmero da forma conservou a sensibilidade, o sentimentalismo, características inatas do povo brasileiro.
Extraído da Nova Biblioteca Prática da Língua Portuguesa - Editora AGE

3 comentários:

vaisabe disse...

Com esta letra vermelha, não dá para ler "NADA"! É uma pena!!!!!!

Anônimo disse...

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