terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Deixai entrar a morte

Deixai entrar a Morte, a Iluminada,
A que vem para mim, pra me levar.
Abri todas as portas par em par
Como asas a bater em revoada.

Que sou eu neste mundo? A deserdada,
A que prendeu nas mãos todo o luar,
A vida inteira, o sonho, a terra, o mar
E que, ao abrí-las, não encontrou nada!

Ó Mãe! Ó minha Mãe, para que nasceste?
Entre agonias e em dores tamanhas
Pra que foi, dize lá, que me trouxeste

Dentro de ti? Pra que eu tivesse sido
Somente o fruto amargo das entranhas
Dum lírio que em má hora foi nascido!...

+*+Florbela Espanca*+*+
in Reliquiae

* Vila Viçosa - Alentejo, 8 de dezembro de 1894
+ Matosinhos - Douro, 8 de dezembro de 1930

*Flor Bela de Alma da Conceição Espanca

Um comentário:

Sei que existes disse...

É um poema triste...
Espero que não o estejas a sentir...
Beijo grande